"Por que" e não "porque"


Na revisão do meu texto do meu artigo de sábado passado, os revisores cometeram um erro - hoje muito comum. Aliás, é um erro que, neste folclore anti-regionalista, me anda a irritar bastante.

Foi nas perguntas dirigidas ao PP, incluídas no meu artigo: “Porque é que 25 mil militantes ou filiados foram votar? Porque é que não fez antes um referendo sobre o referendo? “O correcto, como eu tinha escrito, era: “Por que é que 25 mil militantes ou filiados foram votar? Por que é que não fez antes um referendo sobre o referendo?”

Este é um assunto - o tema em geral, não o lapso dos revisores - que me anda a encanitar bastante, sobretudo quando olho para os cartazes com que o PSD encheu o país e que servem de cenário às 1001 conferências de imprensa do Marcelo. Lá está: “Porque é que o PS não quer...?” Quando devia estar: “Por que é que o PS não quer...?”

Há dias era o “Expresso” que publicava o título de uma futura possível campanha do PP: “Porque quer o PSD aumentar os políticos?” Quando devia ser: “Por que quer o PSD aumentar os políticos?”
E há quinze dias era uma série, seguidinha, do Paulo Portas no “Independente”: “Os apetites são inevitáveis e explicam, em boa medida, porque é que a regionalização é muito mais uma reivindicação das elites políticas...”; “Pois se o Estado se organiza, porque não haverão os cidadãos de fazer o mesmo?”; “Do mesmo modo não se percebe porque é que a dimensão ou a necessidade dos problemas há-de coincidir com o espaço regional...” Em todas, devia ser por que, em vez de porque: “Os apetites são inevitáveis e explicam, em boa medida, por que é que a regionalização é muito mais urna reivindicação das elites políticas...”; “Pois se o Estado se organiza, por que não haverão os cidadãos de fazer o mesmo?”; “Do mesmo modo não se percebe por que é que a dimensão ou a necessidade dos problemas há-de coincidir com o espaço regional...”

A razão da diferença é simples. Em todos aqueles casos, o “por que” não está a justificar coisa nenhuma, antes está a questionar. É como se lá estivesse escrito “por que (motivo)”, “por que (razão)”, “por que (raio)”, etc. O “que” do “por que” está para se referir justamente ao “motivo” ou à “razão”, que ficam implícitos na frase.

Creio, de resto, que isto tem uma explicação gramatical - de que já não me lembro. Mas a Edite Estrela de certeza que explica.

Eu, pelo menos acho que é assim. Se estou enganado, porém, agradeço que me expliquem.

Mas este tipo de erro, a grafar os “porques” e os “por ques”, é hoje muito frequente, infelizmente. De tal modo que, para chatear os nacionaleiros anti-regionalistas - assim tão maltratado a nossa língua-, até admiti escrever um artigo (ou uma nota) chamado “Por que porque”.


José Ribeiro e Castro
Jurista

PÚBLICO, 7.Maio.1996

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