Petição: Comissão Parlamentar para as Políticas do Mar
PETIÇÃO
Queremos uma Comissão Parlamentar para as Políticas do Mar
A Sua Excelência
O Presidente da Assembleia da República
1. O mar é ancestralmente um dos principais recursos naturais de Portugal. Não obstante, nas últimas décadas, o país deixou o mar fora da sua agenda política e económica, não o inserindo no rol das prioridades nacionais.
Está a despertar, porém, uma nova atitude nacional. Assiste-se a uma acentuada mudança de percepção relativamente ao valor do mar. Podemos dizer que estamos crescentemente diante de um novo paradigma nas atitudes perante o mar, reconhecendo-o não só como uma questão de tradição, mas também imperativo de modernidade, não só como traço essencial da nossa identidade, mas como nova e vasta oportunidade para o nosso futuro colectivo.
2. Conhecer o valor actual dos oceanos e perspectivar o seu crescente papel nas sociedades do futuro é essencial para todos os países. Mas é, sem dúvida, mais essencial para os Estados costeiros, como Portugal, urgindo reconhecer e consagrar o imenso valor político, estratégico, económico, ambiental e cultural dos oceanos.
O mar, enquanto recurso natural, impõe-se-nos como tema incontornável. Portugal dispõe de uma longa linha de costa continental e conta com dois arquipélagos, regiões autónomas. A área marítima sob jurisdição nacional é dezoito vezes a área do nosso território terrestre e corresponde, para mais, a uma grande parte do Mar da União Europeia. O país encontra-se no processo de delimitação de uma das maiores plataformas continentais do mundo, o que duplicará o seu espaço marítimo. E o espaço português é marcadamente de carácter intercontinental, projectando-se tanto na relação transatlântica, como na vertente Norte/Sul.
Portugal é, neste sentido, não tanto um país europeu de dimensões limitadas, mas uma grande nação oceânica mundial.
3. Para Portugal, o mar não é apenas o passado. O mar é, mais do que tudo, o futuro.
É através da marinha de comércio e das infra-estruturas portuárias que nos chega a grande parte da energia que importamos e uma parte importante das matérias-primas e das mercadorias que consumimos, assim como é por aí também que remetemos aos nossos clientes uma fatia cada vez maior das exportações. É pela atracção do mar e da nossa costa que mais de 70% dos turistas estrangeiros se deslocam a Portugal. É aqui que reside, ainda, apesar do declínio das duas últimas décadas, a terceira maior comunidade de pescadores da Europa, depois da espanhola e da italiana. O mar poderá ser a base de uma indústria de aquicultura que nos permita reduzir as importações de pescado e poderá ser uma nova via de transporte ou uma plataforma para uma nova indústria biotecnológica. É sabido que as algas são um recurso económico de amplo e variado potencial. Detemos a grande maioria dos estuários da Península Ibérica que desaguam no Oceano Atlântico e que são riquíssimos em biodiversidade. E temos os vastos fundos marinhos da nossa plataforma continental – em particular, as riquezas da biodiversidade dos montes submarinos, dos corais de profundidade e das fontes hidrotermais que se encontram na nossa plataforma continental. Temos, a partir do mar, importante e variada matéria-prima genética para a biotecnologia. Novas perspectivas são constantemente acrescentadas pelo desenvolvimento das tecnologias subaquáticas e off-shore. E é conhecido o potencial energético, quer em recursos tradicionais, quer nas energias renováveis.
4. Importa mobilizar o Estado, ao seu mais alto nível, a partir do Parlamento, onde se representa toda a República e toda a cidadania, para este grande desafio nacional.
A Assembleia da República pode dar o contributo decisivo à resolução de um longo problema quanto às políticas públicas do mar: conseguir dotar de visão de conjunto – e, correspondentemente, de harmonia, coesão e coerência – as diferentes políticas relativas ao mar.
Uma comissão parlamentar será apta, como nenhuma outra estrutura, a articular, na perspectiva de uma comum estratégia do mar, as políticas que se exercem em sectores longamente estruturados, como Marinha, pescas, portos e transportes marítimos, e aquelas que se projectam em dezenas de outras áreas dispersas pelos respectivos departamentos: a investigação e ciência, os desportos, a energia, o ambiente, o turismo, a animação e sensibilização escolar, o ensino especializado e superior, a formação profissional, o trabalho e o emprego, a cultura, os estrangeiros e fronteiras, as polícias, a integração europeia, etc.
A Comissão Parlamentar para as Políticas do Mar será a sede política permanente da visão de conjunto e de uma contínua reflexão abrangente sobre o mar português, com importantes vantagens adicionais: primeiro, terá grande visibilidade para a opinião pública; segundo, a própria dialéctica maioria/oposição ajudará o governo a implementar o dinamismo e a coerência que é o que se busca quanto às políticas públicas para o mar; e, terceiro, a comissão parlamentar permitirá assegurar continuidade na estratégia nacional para o mar, para além da normal alternância democrática nas maiorias e no governo.
Nestes termos:
Solicitamos a Vossa Excelência, Senhor Presidente da Assembleia da República, que, nos termos do disposto no artigo 178º, nº 1 da Constituição e nos artigos 34º e 35º do Regimento da Assembleia da República, promova, na XII Legislatura, a iniciar no corrente ano de 2011, a constituição da Comissão Parlamentar para as Políticas do Mar.
Sagres, 20 de Abril de 2011
Nota: a petição foi assinada por mais de 1.500 subscritores, vindo a ser debatida em comissão parlamentar em 19 de Outubro de 2011
José Ribeiro e Castro
Deputado
PETIÇÃO PÚBLICA, 20.Abril.2011
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