31 de Maio


Há quem se diga contra. há quem seja a favor. A maior parte é por uns, contra outros. Dizendo melhor: a maioria assinala uns, é indiferente a outros. Refiro-me aos “Dias de”, aos dias disto e daquilo. Assinalamos o que nos toca, o que sentimos.

Há “dias” para quase tudo. E, todavia, faltarão alguns. Há aqueles “dias” que celebramos oficialmente, em palestras, evento solenes, grandes comemorações – pompas. E há os que assinalamos pessoalmente, em família, em comunidade, nas nossas relações – simples. É destes que falo. Ainda falta um.

Há o Dia da Mãe, do Pai, dos Avós, mas... falta o Dia dos Irmãos.

Há coisas que só damos por elas quando nos faltam. É assim com o ar. Também com a liberdade. E outras há que damos certamente por elas quando nos faltam, mas também damos bem por elas quando as temos. É assim com os irmãos. Ou as irmãs, está visto.

Só tive um irmão. Há quem não tenha nenhum. Há quem tenha muitos. Há quem só tenha irmãs ou só irmãos. Há quem tenha irmãos e irmãs. Eu só tive um irmão. E era muito metade ou mais de metade de mim, sendo inteiro. Sendo inteiros, eu e ele, diferentes um do outro, próprios de nós mesmos, éramos bem metade (ou mais de metade) um do outro. Prodígio que a matemática não consegue explicar. Só a vida.

Alguém há dias me observou que os irmãos são as únicas pessoas no mundo que têm o mesmo sangue entre si. Nem os pais, nem os filhos. Só os irmãos – e as irmãs, está visto. É verdade; nunca tinha pensado nisso. Os irmãos germanos, isto é, irmãos do mesmo pai e da mesma mãe, têm exactamente o mesmo sangue – e não há mais ninguém assim.

Mas não é só isso, pois todos percebemos relações igualmente fortes entre irmãos uterinos ou consanguíneos. Há algo absolutamente especial na relação de irmãs e irmãos. Irmãos são coisa única; e especial. Que se prolonga em tios e primos – irmãos de pais; e filhos de irmãos de pais. Há qualquer coisa única em sermos irmãos – e a sua extensão.

Uma palavra é cumplicidade. Outra é partilha. É entre irmãos que se aprende a divisão do espaço e das coisas – uma descoberta feita de choque e de acomodação. É entre irmãos que descodificamos o tempo concreto da nossa vida, traduzindo de pais para filhos. É a primeira aprendizagem da vida em sociedade, da definição horizontal de regras de interesse próprio e de interesse comum. Mesmo entre mais velhos e mais novos há uma comunidade de iguais, como os mais velhos de feitio mandão cedo aprendem, ou têm grandes dissabores: não estão lá para mandar e submeter; apenas vão à frente, quando lhes calha ir à frente.

É isso que queremos celebrar no Dia dos Irmãos < www.diadosirmaos.org/peticao.php > uma ideia europeia das famílias numerosas. Não é preciso ser família numerosa para ter irmãos; mas o que caracteriza as famílias numerosas é terem mais irmãos: às vezes, muitos.

Não é pela natalidade que o fazemos. É mesmo pela felicidade. Na véspera do Dia Mundial da Criança (1 de Junho) o que estaremos também a dizer, no Dia do Irmãos, é uma belíssima frase que muitas vezes ouvi ao meu irmão: “Se queres ver uma criança feliz dá-lhe um irmão; se queres ver uma criança muito feliz, dá-lhe muitos irmãos.”

É já amanhã. Bom Dia dos Irmãos!

José Ribeiro e Castro
Advogado, ex-líder do CDS
EXPRESSO, 30.Maio.2015

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