CDS, Angola e 2016


Relações internacionais de partidos são assunto sério. Não são brincadeira leviana, nem ato de comércio. Decorrem de fac­tos históricos, afinidades políticas e ideológicas. Expressam-se em laços bi­laterais, que não são oportunidades de ocasião, mas quadros duradouros de diálogo. cooperação, entreajuda. E traduzem-se frequentemente na pertença comum a internacionais partidárias.

A UNITA integra a Internacional Democrática do Centro, que sucedeu à antiga UMDC – pertenceu-lhe o CDS, hoje o PSD. E tem relações antigas com o CDS. O MPLA é da Internacional Socialista, onde está o PS, e tem como parceiro histórico o PCP. Outros partidos angolanos não têm quadros externos estabelecidos.

Isto não é estanque, nem significa que cada um só possa mover-se no redil respetivo. Só é assim com partidos sectários, senão totalitários. Mas é um dado matricial relevante, cabendo distinguir quando nos relacionamos dentro da nossa família, ou quando estamos a observar forças doutros campos, com que, por variadas razões, há que manter diálogo, proximidade, abertura, E também é fundamental – para não nos gritarem "traição!" - que o diálogo estreitado com estes terceiros não esmague os nossos segundos, isto é, os nossos parceiros,

Não vou recapitular a história das relações luso-angolanas. À cabeça, importa olhar Angola como pais amigo e irmão. Sempre. Cabe recordar a dolorosíssima guerra civil que os angolanos sofreram, num cortejo terrível de morte, êxodos e destruição. E é fundamental termos noção da construção da democracia angolana no quadro do pós-guerra.

Creio, sem receio de ser desmentido, que Angola só conseguirá cumprir o seu destino - que é extraordinário e fabuloso - quando conseguir consolidar uma democracia plena como Cabo Verde. Isso está escrito não nas estrelas, mas na terra: no rosto e nos corações dos angolanos. Porquê? Porque a democracia é indispensável à integração, que é fundamental à afirmação da própria nação angolana e sua sociedade civil. Feito o Estado, chegou a hora da nação.

Como podemos ajudar?

No fim dos anos 90, escrevi um artiguinho a sintetizar o que penso: “todos com todos”. É um apelo aos nossos partidos em dois sentidos: um, serem fiéis nos relacionamentos partidários preferenciais; outro, não se entrincheirarem e abrirem janelas de diálogo com todos os outros, independentemente de afinidades. Assim é que servimos a democracia angolana: parceiros da UNITA a falar também com MPLA, FNLA, PRS, CASA-CE, BD, outros; parceiros do MPLA a proceder de igual modo. Ajudamos a democracia, a partilhar a nossa democracia plural.

Fiz sempre assim em todas as missões a Angola que integrei ou chefiei. Com os nossos e com todos. O Governo português deve fazer o mesmo. Sei que Luís Amado fazia assim. Paulo Portas, como ministro dos Negócios Estrangeiros, regressou ao relacionamento exclusivo com o MPLA, desprezando todos os demais. Angela Merkel não fez assim; outros líderes internacionais também não. Foi um ministro nosso a dar o mau exemplo. Tudo culminou nesta excursão basbaque ao Congresso do MPLA.

Isso é escolhermos um partido único – o que os angolanos não querem. É trairmos a construção da democracia pluripartidária, que o MPLA também aponta. E não é mostra de respeito pelo Presidente de Angola. Não presta respeito quem se falta ao respeito.


José Ribeiro e Castro
Advogado, ex-líder do CDS

EXPRESSO, 20.Agosto.2016

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