Novo, Mais, Melhor Alentejo


Em 2002 e 2005, fui cabeça-de-lista do CDS no círculo de Portalegre. O partido pediu-me; e aceitei. Não tinha a menor hipótese de ser eleito – ali, não se elege um deputado com menos de 30% dos votos; e o CDS estava longe disso. Era uma espécie de serviço cívico. Tinha a possibilidade de o fazer e aceitei. Aceitei em 2002; repeti a dose em 2005.

De ambas as vezes, assentei arraiais em Portalegre durante umas semanas. Percorri o distrito de lés-a-lés; mais do que uma vez nalguns concelhos. Gostei. A bem dizer, gostei muito. Fiz amigos, que lembro sempre com saudade: João Malpique, campeão do porco preto alentejano; José Casimiro; Luís Pinto; Homero Lousada, já falecido, nossa referência sénior de Castelo de Vide. Foi aí também que conheci e fiz amizade com Ceia da Silva, que, então, liderava só o turismo norte-alentejano.

Entre as duas eleições, voltei amiúde ao distrito, embora só às cidades: Portalegre, Elvas, Ponte de Sor. Nesse intervalo, constatei, de forma quase física, o avanço da desertificação. Nas cidades, não era tão evidente. Mas, em Monforte ou Fronteira, em Niza ou Marvão, no Crato ou Avis, em Alagoas ou Gavião – era nítida a quebra em 2005 face à memória de 2002.

É um problema de todo o Alentejo, mais acentuado no Baixo Alentejo e no Norte Alentejano. Conheço-o bem pela atividade no meu posto principal em Odemira, ou noutras andanças alentejanas, até Olivença. Não há razão válida para não se fazer nada, sustentadamente, para vencer de vez o problema e inverter até a tendência.

Nesses anos, em conversas, surgiu a ideia que chamei de “Novo Alentejo”. Seria um novo espírito civil. Depois do antigamente e dos calores e fraturas da revolução, o Alentejo necessita de novo reencontro de todas as suas gentes, capaz de puxar para diante este território de três distritos e meio. Esse novo espírito civil, jovem, ambicioso sobre o futuro, exigente sobre si próprio, associativo e cooperativo, empreendedor e atrevido, criador e inovador, estudioso, conhecedor e inventivo – é o que pode tirar o Alentejo do sequeiro, bem como da modorra com que ainda o olham. Fiz um blogue, onde “batia umas bolas”. Mas a coisa parou aí.

Entretanto, na mesma altura, dava os primeiros passos a revista “Mais Alentejo”, lançada pelo António Sancho, que já conhecia há uns anos – uma obra sustentada numa impressionante prova de tenacidade, dedicação e determinação. Estreara em 2000 e, em 2002, lançara outra aventura: a Gala Mais Alentejo, mantida com impecável pontualidade anual desde então, como a sala de visitas, a montra de novidades e referências do Alentejo, de que todos colhem frutos.

O espírito é o mesmo em que eu também caíra: um novo Alentejo de todos, a mexer – e a mostrar que mexe. Com a mais-valia extraordinária de a revista ser um fórum permanente, que circula entre todos os que escrevem e os que leem, um instrumento que une, informa, pode mobilizar. E a vantagem maior de a Gala, que, laboriosamente, põe de pé todos os anos, poder ser a cada vez mais radiosa festa de revelação, de celebração, de projeção do Alentejo.

Recentemente, foi a vez de um novo amigo, Manuel Valadas, me surpreender com um novo projeto: o “Melhor Alentejo”. O espírito é de novo o mesmo, mas, agora, centrado na organização de um evento anual, de apresentação e debate, que projete, para dentro e para fora, as capacidades do Alentejo em diferentes sectores e possa ser a mola agregadora de todos, bem como polo de atração a partir do exterior. Muito caminho já se andou e a data-tentativa para o evento está definida para 31 de março.

Está na hora do Alentejo. Há muita coisa nova – e boa! – que está a fazer-se: no vinho e no azeite, na fruta e na cultura, nas artes e no turismo, na carne e nos enchidos, na doçaria e no artesanato, no novo regadio e no património, na universidade e nos politécnicos, na floresta e na planície. Há outro tanto por fazer. E mais além ainda. Alqueva, no interior, e Sines, no litoral, são polos poderosíssimos, apontados às próximas décadas.

É preciso uma espécie de “partido civil”, um partido não-partidário, um partido sem cor ideológica, uma frente cívica alentejana, que reúna, exprima e mobilize a capacidade empresarial, a força cultural e a energia inovadora do Alentejo.

Novo, Mais, Melhor Alentejo – é tudo a mesma ideia. Um interlocutor da sociedade civil alentejana junto da CCDR/A. A voz dos alentejanos, inconformados e realizadores, perante os governos, em frente dos deputados, junto dos diferentes partidos. De facto, está na hora!



José Ribeiro e Castro
Advogado

MAIS ALENTEJO, 1.Outubro.2016
Crónicas "AQUÉM-GUADIANA"

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