"Surfar" o destino na nossa terra


Podia ser apenas na praia do Malhão, ali na costa da minha Odemira. Mas não. Este surf é maior e mais vasto, mais importante e geral. É uma onda, uma vaga, uma maré que atravessa cada vez mais toda a região e a preenche com dinamismo, inovação, alegria, poder de atracção, capacidade de realização.

Até parecia que a minha última crónica na nossa “Mais Alentejo” tinha a pontaria certeira. A prestigiada revista VISÃO escolheu como tema de capa do seu último número de Outubro o nosso Alentejo. E não escolheu um Alentejo qualquer, mas destapa e conta precisamente aquele Alentejo sobre que escrevi e nos entusiasma o sonho e a ambição: o novo Alentejo, o mais Alentejo, o melhor Alentejo.

Vale a pena guardar e reler esse número da VISÃO.

O título de capa era “Há vida nova no Alentejo”, abrindo-nos o apetite com a fotografia feliz de um casal empreendedor e o lançamento em subtítulo: “Histórias de persistência e paixão de quem está a transformar a região, com pequenos e grandes projetos”. O índice excita ainda mais a curiosidade, focando-nos nos “Novos alentejanos” e anunciando-nos: “No Alentejo há uma nova geração apaixonada que está a imprimir outros estilos de vida, através dos seus projectos, à região. Conheça as suas histórias.”
A peça de fundo, no miolo da revista, não desaponta. Parte do título “A paixão dos novos alentejanos” e deste lead: “O Alentejo já não é só campos a perder de vista e praias quase virgens. Está a mexer e a mudar como nunca, e a culpa também é de gente inspirada, paciente e persistente, capaz de imprimir novos estilos de vida com os seus pequenos-grandes projectos.” As jornalistas Rita Montez e Rosa Ruela contam-nos, depois, sete histórias de capacidade e sucesso em diferentes sectores: a agricultura, o turismo, a cultura, a investigação, a produção alimentar. Sete histórias com rosto humano, coração grande, alma cheia, em que não faltam também aqueles imigrantes que caracterizam a nova paisagem de empreendedorismo e inovação no Alentejo: uma lisboeta, que andou pelo Luxemburgo e pela Dinamarca e aterrou na investigação agrária em Évora; um casal jovem, que largou tudo em Lisboa e foi abrir uma unidade de turismo rural em Grândola; e um dinamarquês, jovem de 55 anos, que está cá há 34 anos e foi pioneiro de Alqueva, antes de Alqueva.

Estas sete histórias concretas da VISÃO, histórias humanas, empresariais ou culturais, poderiam ser setenta outras; ou, como no célebre Evangelho de S. Mateus, “setenta vezes sete”, não no sentido de serem exactamente 490, mas no sentido de inesgotável.

Todos os anos vemos desfilar umas poucas delas na Gala Mais Alentejo, como aconteceu uma vez mais, na 15ª Gala, este ano no Casino Estoril, 11 de Novembro passado. Claro que não foi só Alentejo, já que a revista olha para todo o país a partir do Alentejo e não se encerra nas fronteiras da região. Está bem assim.

Mas, na tensão de critérios entre distinguir premiar alentejanos notáveis em todos os sectores e destacar outros portugueses ilustres, do que gostamos mesmo é de ver os “nossos” reconhecidos, incluindo aqueles “nossos” que vieram para o Alentejo para inovar, para criar, para acrescentar valor, para levar longe o nosso nome e a nossa marca.

A reacção do público não engana. Seja o público que vota na selecção dos premiados, seja o público que aplaude em cada Gala. Não excluímos ninguém e olhamos para todos os portugueses com olhar largo e critério aberto. Mas do que gostamos mesmo é daqueles homens e daquelas mulheres que andam a surfar por todo o Alentejo, com excepcional capacidade empreendedora, e a rasgar o futuro de Portugal na nossa terra.

É isso que a “Mais Alentejo” tem mostrado, número a número, Gala a Gala, desde que começou no princípio do século. E, agora, a VISÃO também viu – e mostra.

Algo que já não somos só nós a saber, mas se vai sabendo cada vez mais, na Dinamarca, na Alemanha, em França e Reino Unido, na Holanda, no Brasil, em Angola. O nome do Alentejo chega cada vez mais longe. E chega bem: chega novo, chega mais, chega melhor.

O surf do Alentejo é top. Estamos na onda.



José Ribeiro e Castro
Advogado

MAIS ALENTEJO, 1.Dezembro.2016
Crónicas "AQUÉM-GUADIANA"

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