Alentejo com pedalada
Numa estratégia de afirmação regional, nacional ou internacional, o desporto ocupa sempre lugar relevante. Poucos acontecimentos atraem tanta atenção como os desportivos. Colam-se-lhe espontaneamente ideias positivas, fortemente mobilizadoras: força, dinamismo, ambição, superação, triunfo.
Essa é a importância da Volta ao Alentejo, que acaba de disputar-se. Normalmente é em Março/Abril; neste ano, antecipou para antes do Carnaval, de 22 a 26 de Fevereiro. Venceu Carlos Barbero. Estreada em 1983, é uma forte referência. Já foi ganha por nomes de grandes campeões, como Marco Chagas, Manuel Zeferino, Joaquim Gomes, Miguel Indurain, Joaquim Andrade. Devemos estar gratos aos organizadores, à Federação Portuguesa de Ciclismo e aos patrocinadores, bem como aos Municípios que apoiam.
A Volta ao Alentejo pertence, desde 2005, ao calendário da União Ciclística Internacional (UCI), integrando o UCI Europe Tour. Leva, anualmente, o nome do Alentejo a todo o mundo. Tem, aliás, condições ideais para começo de temporada, quando equipas e corredores começam a intensificar a preparação para as grandes competições do Verão: por um lado, o ameno clima do Alentejo, onde a Primavera chega cedo; por outro, a extensão de planícies permite rolar, rolar, rolar, com uma pequena montanha aqui ou ali, para fazer o gosto aos trepadores. A prova, nos últimos anos, parece ter encontrado o formato ideal: cinco etapas, sendo uma em contra-relógio. Finíssimo!
Nesta 35ª Volta, os ciclistas da Volta pedalaram 880 km por todo o Alentejo: do Norte Alentejano ao Baixo Alentejo, do Interior ao Alentejo Litoral. Em rigor, a Volta cobriu muito mais território, se aos percursos pedalados juntarmos os “saltos” entre cada terra de chegada e a da partida na manhã seguinte. Os dez marcos foram Portalegre/Castelo de Vide, Monforte/Portel, Mourão/Mértola, Odemira/Alcácer do Sal, Ferreira do Alentejo/Évora. Nenhuma sub-região pode queixar-se.
No Alentejo, não há outros grandes eventos desportivos. Não temos clubes de futebol nas 1ª e 2ª Ligas – vão longe os tempos do Lusitano de Évora na 1ª Divisão. Nos desportos de pavilhão, não temos grande projecção. Somos território de provas de desporto motorizado e temos boas condições para desportos náuticos e fluviais. Falta fazer muito. A formação desportiva deve intensificar-se, até como factor de saúde e bem-estar. Mas o baixo peso demográfico do Alentejo não nos favorece como potência desportiva. A regra é: quanto mais gente, mais desportistas; quanto mais desportistas, mais campeões. Essa regra penaliza-nos.
Daí, a importância focal da Volta ao Alentejo. Podemos talvez construir outro acontecimento desportivo que se aproxime da atractividade da Volta; dificilmente teremos outro que a supere. Até porque a Volta ao Alentejo já tem 35 anos de passado, isto é, tem história, tem palmarés, tem carisma.
Devemos fazer da Volta ao Alentejo a nossa festa. Qual Tour, qual quê? Qual Giro, qual quê? Qual Vuelta, qual quê? A Volta ao Alentejo é que é! Miguel Indurain ganhou cinco vezes o Tour de France? Certo. Miguel Indurain ganhou duas vezes o Giro d’Italia? Certo. Mas a Volta ao Alentejo só conseguiu ganhar uma. As outras são canja, a nossa Volta é que é custa.
O Alentejo que mexe, o Alentejo que inova, o Alentejo que acredita, o Alentejo que cria, o Alentejo que semeia e colhe, o Alentejo que pensa e escreve, o Alentejo que transforma, o Alentejo que canta, o Alentejo que quer, o Alentejo que corre, o Alentejo que soma, o Alentejo que tem pedalada – esse Alentejo tem de abraçar cada vez mais a Volta ao Alentejo como a nossa festa. É o nosso salão de estrada, uma nossa rota de encontro e de amostra. É um percurso onde nos vemos e nos vêem também.
Como aqui já escrevi, sonho pôr de pé uma outra clássica do ciclismo: uma travessia do Alentejo de O a O, ligando Olivença a Odemira – uma prova de um dia, também em começo de temporada. Já comecei a trabalhar nisso, com amigos, com Marco Chagas e o Presidente da FPC, Delmino Pereira. Veremos se há unhas para essa viola. Quando começar, estão todos convidados. Para já, o que temos de agarrar é a nossa Volta e nossa festa. E, quem sabe? Pode ser que venha a visitar Olivença, esse pedaço de Alentejo do lado de lá, além Guadiana.
José Ribeiro e Castro
Advogado
MAIS ALENTEJO, 1.Abril.2017
Crónicas "AQUÉM-GUADIANA"
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