Os irmãos Marx


Grande data é o Dia dos Irmãos! Desde que, há poucos anos, a sociedade civil lançou o 31 de Maio, que não cessa de ganhar adesão e significado, ano após ano. Graças à imprensa e à rádio, ao comércio mais atento, a empresas com responsabilidade social, a autarquias e escolas, às redes sociais, o caminho faz-se caminhando. Ainda não tem o eco do Dia da Mãe ou do Dia do Pai; lá chegaremos.

Feliz o dia em que as famílias numerosas, a partir da Confederação Europeia, se lançaram nesta aventura. Por cada irmão que telefona à irmã apenas por um beijo; por cada grupo de irmãs que se junta a cavaquear memórias; por cada abraço de velhos irmãos, daqueles de partir as costas; por cada reunião via Skype ou FaceTime a fazer próximos irmãos distantes; por cada lágrima, de sorriso molhado, pela saudade; por cada bando de crianças da mesma casa a irromper pela sala; por cada desafio de matraquilhos ou futebolada no jardim; por cada competição de desenhos, textos, canções, macacadas; por cada tarde à gargalhada; por cada sessão de vídeos e fotografias; por um café apenas ou presente mais imaginoso – por cada gesto de irmãs e irmãos a 31 de Maio, são infinitos os sorrisos que despertam, felicidade realmente. Belo dia o Dia dos Irmãos, o Brothers and Sisters Day, o Día de los Hermanos, o Geschwister Tag, a Journée des Frères et Sœurs.

Uma coisa tão evidente que ainda hoje custa entender que raio de preconceito terá levado, há meses, a esquerda oficial a fazer piruetas parlamentares para não endossar o movimento civil. Verdade seja que andaram mal dirigentes do CDS a politizar o tema. Os partidos devem respeitar a sociedade civil, não tentarem cavalgá-la. Mas a verdade é que, feita a ressalva, não cabe criticar quem se aproxima do Dia dos Irmãos, antes quem se afasta.

O que faria a esquerda estranhar um Dia dos Irmãos? O porta-voz do PS nesse debate esteve tão embrulhado e artificioso que me ocorreu a coisa ser filha de pressa descuidada. Talvez um assessor inexperiente que, querendo certificar o marxismo da ideia, municiou o deputado com os irmãos Marx de lenda imortal. O deputado, olhando os famosos Chico Marx, Harpo Marx, Groucho Marx, Gummo Marx e Zemmo Marx, terá achado cómico, mas impróprio de comité central; e guinou para a fífia de uma esquerda sem irmãos.

Fez mal. Escavando um pouco mais, verificaria que Karl Marx – ele mesmo, o genuíno! – era membro de família numerosa, o terceiro de nove irmãos: Moritz, Sophie, Karl, Hermann, Henriette, Louise, Emilie e Caroline. E foi ele próprio, o Marx d’ “O Capital”, pai de um rancho de seis irmãos: Jenny Caroline, Jenny Laura, Edgar, Guido, Jenny Eveline Frances e Jenny Julia Eleanor. Não querem lá ver...

É normal que figuras da esquerda portuguesa, como Inês de Medeiros, José e Ricardo Sá Fernandes, tenham já participado com artigos de testemunho pelo Dia dos Irmãos, a marcar o calendário. Ou o primeiro-ministro – da história única de Babush e Babaló –, que já se inscreveu para este espaço em 2018.

Seria muito estúpido fazer desta celebração trincheira de direita ou esquerda. Nisso, só me lembro das bulhas com o meu irmão ao chegarmos a um quarto novo, sobre quem ficava com a cama da esquerda ou da direita. À parte isso, política... nenhuma!



José Ribeiro e Castro
Advogado, ex-líder do CDS

EXPRESSO, 27.Maio.2017

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