A mesa do Alentejo
Sentia-se um espírito especial naquele almoço de 2 de Maio. Pouco mais de um ano passara sobre o início da caminhada do MELHOR ALENTEJO. Foi o último grande encontro antes da primeira prova pública, o 23 de Maio em Beja.
A mesa fora reunida por Manuel Valadas, o homem da ideia – sonhador, mas realizador. Além do pastor do projecto e de dois militantes do princípio – o Renato Carrasquinho e eu próprio –, a mesa juntava empresários e gestores com projecção na economia nacional, de diferentes Alentejos do nosso Alentejo: António Serrano (grupo Jerónimo Martins), António Silvestre Ferreira (Vale da Rosa), João Paulo Crespo (Fertiprado), Jorge Nunes (Crédito Agrícola Costa Azul), Jorge Rebelo de Almeida (Vila Galé) e José Roquette (Esporão). Não pôde estar o incomparável Rui Nabeiro (grupo Delta), bom amigo também - e parceiro.
Na sala de jantar do Palácio dos Arcos, em Paço de Arcos, sob a inspiração dos poetas que ilustram com seus poemas as paredes do hotel, sonhámos uma vez mais o futuro. Mas, desta vez, já não boiávamos no vazio: tínhamos finalmente à porta a 1ª Conferência MELHOR ALENTEJO por cuja montagem trabalháramos cerca de um ano.
Um dos esforços mais persistentes do Manuel Valadas foi reunir, um a um, empresários de eleição, explicando o espírito MELHOR ALENTEJO, catequizando-os para a ideia, ouvindo a experiência, transformando o sonho em ambição. Um trabalho de costura paciente de um grande ouvidor – e, por isso, construtor. Pedra a pedra, boa vontade a boa vontade, experiência somada a mais experiência, foi ganhando corpo uma equipa rara, foi-se agregando um capital humano precioso, um privilégio de atrevimento.
À mesa esteve o Alentejo. Em cima da mesa, no centro da mesa, o Alentejo todo, sem esquisitices, nem bairrismos, nem exclusões. Estiveram o Alto e o Baixo Alentejo, o Norte Alentejano e o Alentejo Central, a Margem Esquerda e o Alentejo Litoral, a serra e a planície sem fim. Esteve todo o Alentejo de Odemira a Olivença, como gosto de dizer, ou de Nisa a Almodôvar.
Falámos dos tempos difíceis que cercam Portugal, da crise da Europa e da tremenda incerteza do mundo; das críticas dificuldades em que o país mergulhou há anos. Mas sorrimos das oportunidades e da capacidade de afirmação que, apesar de todas as adversidades, o Alentejo mostra e afirma cada vez mais. Falámos com os pés na terra, o olhar no caminho, a visão para lá do horizonte.
Ouvimos Silvestre Ferreira discorrer sobre a ideia central de “uma agricultura que traga gente”, uma ideia revolucionária, de desenvolvimento integral. Partilhámos capacidade de inovação e de investigação, experiências de turismo, de exportação e de financiamento, força de atração e ousadia de novos mercados. Conversámos sobre a força cultural e a riqueza patrimonial que une uma identidade de marca, fantástica. Discutimos – e exigimos – descentralização política, que, nos próximos anos, quebre de vez o galho da “regionalização”, de uma maneira ou de outra – o Alentejo não pode continuar entupido à esquina da burocracia e dos preconceitos da política estúpida.
Falámos de continuar a juntar gente e a mobilizar pessoas por esta ideia de um “partido civil”, um partido não-partidário, um partido sem partidos; a sociedade civil mexendo-se em movimento como se partido fosse, mas só, só, mesmo só, pelo Alentejo: o “partido” do Alentejo, o partido do MELHOR ALENTEJO. Falámos do propósito de irmos emergindo como a contraparte civil da CCDR, forjada a partir da base e forte lastro na experiência dos melhores empresários da região, os mais inovadores, os mais persistentes, os mais ousados, os mais sólidos, os mais ambiciosos, os mais inconformados, os mais realizadores. Falámos de derrotar o individualismo atávico, sermos a federação da obra feita, a federação da capacidade de fazer.
Falámos de ser regadio novo em terra de sequeiro.
Grande almoço, esse, o último antes de 23 de Maio! Oxalá o futuro nos conte que foi memorável e que ficou como marco. O Alentejo precisa. O Alentejo merece.
José Ribeiro e Castro
Advogado
MAIS ALENTEJO, 1.Junho.2017
Crónicas "AQUÉM-GUADIANA"
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