Amanhã é sempre longe demais
A razão por que apoio a eleição de João Noronha Lopes para Presidente do Benfica está escrita nos mandatos de Luís Filipe Vieira. É a altura certa de mudar, porque apareceu a pessoa certa e com a equipa certa para o fazer bem.
Em dezassete anos consecutivos de liderança e cinco mandatos como Presidente, Luís Filipe Vieira realizou muito para o Benfica. Transformou-o para maior e para melhor, como nunca se vira. Alcançou resultados e êxitos desportivos que há muito nos fugiam. Já disse e escrevi que Luís Filipe Vieira corre o risco de ficar como o melhor Presidente de toda a história do Sport Lisboa e Benfica: a conclusão da reconstrução iniciada por Manuel Vilarinho, o novo Estádio, o centro do Seixal e a política de formação, a recuperação competitiva das modalidades e com êxitos internacionais, o inédito tetracampeonato no futebol, a disputa de novo de duas finais europeias, a solidez da SAD, a Benfica TV, a inovação e agressividade comercial, um vasto, invejável e exigente universo associativo, societário e comercial – tudo isso festejámos, devemos e agradecemos a Luís Filipe Vieira. Mas, neste momento, Luís Filipe Vieira corre o risco de não ficar como o melhor Presidente de toda a história do Benfica, por prolongamento excessivo dos mandatos e pelos efeitos comuns da fase de esgotamento, quando se a deixa acontecer.
Este último mandato mostra-o já: casos que acarretaram dano reputacional, uma gestão desportiva não conseguida, oscilações evidentes de estratégia e de rumo nos planos de gestão (por exemplo, a OPA sobre a SAD) e desportivo (por exemplo, as decisões quanto ao treinador e a estratégia associada). Voltámos a ter um ano em que o Benfica não ganhou nada no futebol, terminando a época em quebra geral: desportiva, anímica, de projecção. Ora, o Benfica não pode insistir em escolhas e caminhos de fuga em frente.
O Benfica, que é o maior e o melhor clube de Portugal, tem que ir buscar dentro de si o máximo da sua experiência, os mais ambiciosos dos seus sonhos, o mais sólido e mobilizador do seu capital humano, a mais rasgada visão sobre o futuro, a mais motivada capacidade dos seus técnicos e atletas, a mais imaginativa, enérgica e ousada competência de gestão, a mais inconformada fome de vencer, a maior união benfiquista para redespertar o entusiasmo imbatível dos milhões de sócios e adeptos – e, assim, trilhar uma nova década de sucessos mais além.
Pela dimensão de que Luís Filipe Vieira dotou o Benfica, a sucessão não é matéria fácil. Quem se apresente a eleições tem que dar, pelo seu perfil, pelo seu passado, pelo seu presente, garantias de que é capaz de aguentar o barco, o pôr a navegar bem e o levar mais longe. Sempre pensei que só um benfiquista assim pode dar aos sócios, no momento da transição, as garantias que queremos e exigimos para bem e segurança do grande Benfica.
Ora, quando um clube vê apresentar-se às suas eleições um candidato a Presidente como João Noronha Lopes, não pode desperdiçar a oportunidade. É indisputável o seu benfiquismo de coração e corpo inteiro. Cumpriu com brilho uma carreira internacional de gestão. Tem experiência e muita capacidade. Tem sólida reputação no mercado. Tem visão estratégica. É dialogante e gosta dos sócios. Não precisa do Benfica para a sua vida. Quer dedicar-se para o servir. Tem a idade certa para (correndo as coisas bem) podermos imaginar com ele dois ou três mandatos a liderar o Benfica. Sei bem do que falo: conheci-o na candidatura de Manuel Vilarinho, o que disse muito sobre ele.
Noronha Lopes pode ser para muitos o dois em um: um candidato para ganhar já ou um candidato para se perfilar para a eleição seguinte. Simpatizo com a ideia de uma “reserva benfiquista”: não uma oposição, que irrita as pessoas, não faz sentido, é instrumentalizável, gera grande usura; mas um espaço de reflexão alternativa, independente dos diretores, capaz de pontuar um ou outro momento e acumular capital para o momento do chamamento, se acontecer, quando acontecer.
Do que conheço do Benfica, creio que esta é já a hora do João Noronha Lopes. Amanhã é sempre longe demais. O João não precisa do Benfica. Nós, o Benfica, é que precisamos do João Noronha Lopes. E precisamos agora, porque é o tempo necessário para voltar a vencer.
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