50 anos para celebrar 900
Este 1.º de Dezembro é especial. Os números redondos convocam a memória: passam 380 anos sobre 1640, nesse dia em que arrancámos para recuperar independência, liberdade e soberania.
Também a Sociedade Histórica da Independência de Portugal celebrará em 24 de Maio um aniversário redondo: 160 anos da fundação, então como Comissão Central do 1.º de Dezembro de 1640, que lançou o manifesto de 1861, assinado por 40 figuras marcantes do Portugal da época, como Alexandre Herculano e José Estêvão.
A antiguidade de Portugal é um formidável capital político e humano. Não são muitos os países que fazem 900 anos – Portugal está quase aí. E países que celebrem 900 anos sempre no mesmo território definido nos seus alvores, só conheço um: Portugal. Por atribuição, por conquista ou por descoberta, Portugal é o mais antigo Reino da Península Ibérica (hoje, República) e, nas fronteiras actuais, o mais antigo Estado da Europa e creio que do mundo também. A Espanha, nossa vizinha, só existe, como tal, desde Filipe V, no princípio do século XVIII – na Península, é o nosso irmão mais novo. Os outros Estados europeus e mundiais tiveram, todos eles, histórias acidentadas, que só acabaram (se acabaram…) em séculos mais recentes.
Por isso, na Sociedade Histórica, começámos a trabalhar uma ideia, que, no próximo ano, queremos consolidar e partilhar com as autoridades, por forma a começar a organizá-la, com especial foco na juventude (na escola) e no povo (na rua). A ideia é comemorar os 900 anos de Portugal, não num único dia, nem sequer num só ano, mas em eventos espaçados ao longo de 50 anos, correspondentes aos quatro marcos da Fundação: em 2028, a batalha de São Mamede (24 de Junho de 1128); em 2039, a batalha de Ourique (25 de Julho de 1139); em 2043, o Tratado de Zamora (5 de Outubro de 1143); e, em 2079, a bula Manifestis Probatum do Papa Alexandre III (23 de Maio de 1179). Não se trata de 50 anos em festa e comemorações, o que as desgastaria, mas de agregá-las num espaço comum de 2028 a 2079, destacando o valor fundador próprio destas datas centenárias do nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques, inseridas numa sequência lógica triunfante.
Na ideia que trabalhamos, queremos incluir ainda neste quadro outras datas centenárias da independência, da definição do território nacional e da nossa liberdade: em 2037, o 4.º Centenário da revolta do Manuelinho de Évora; em 2040, o 4.º Centenário do 1.º de Dezembro; em 2049, o 8.º Centenário da Conquista do Algarve; em 2052, o 6.º Centenário da descoberta por Diogo de Teive das ilhas das Flores e do Corvo nos Açores; em 2068, o 4.º Centenário do Tratado de Lisboa, que, após Montes Claros, pôs termo à Guerra da Restauração ou da Aclamação.
Portugal merece estes 50 anos para celebrar 900. E os portugueses precisamos de beber na memória para nos conhecermos melhor e alimentarmos o nosso amor-próprio, essencial para vencer os desafios de cada tempo.
Somos um povo extraordinário, que nos fizemos ao abrigo do Reino – não havia portugueses antes de haver Portugal. Somos todos os que aqui estávamos, mais aqueles que nos demandaram e outros que demandámos nós, andando pelo mundo com nossa língua e o nosso jeito.
Revendo a História, vemos como somos ao mesmo tempo um milagre e uma proeza. Celebrar-nos, gostar de nós – sem arrogância sobre ninguém, apenas pela alegria de sermos nós – é o melhor modo que temos para entender melhor este milagre e alimentarmos continuamente a proeza: Portugal.
José Ribeiro e Castro
Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal
EXPRESSO, 27.Novembro.2020
Excelente ideia! Para 2068, não garanto, que ainda não sei se terei agenda. Mas até lá, participarei quanto puder. Entretanto, será que não podia a SHIP fomentar uma limpeza dos monumentos da Guerra da Restauração? Montes Claros está ao abandono, o da Ribeira do Degebe mete dó. Uma roçadeira, umas sacolas e uns sacos para levar o lixo, meia-dúzia de voluntários... É uma questão de brio, dando o exemplo e lançando o apelo quem tem posição para o fazer, não faltarão braços para os cuidar.
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