Os Descobridores: a revolução geográfica da modernidade
Na nossa página Facebook, temos publicado citações de diferentes autores, espelhando olhares, visões, sentimentos, inspirações, achados sobre Portugal e o que somos, usando discursos de vários oradores, em cerimónias de datas históricas. Vale pena lê-las e relê-las, pois têm sobeja matéria de reflexão e de afirmação. São, as mais das vezes, muito estimulantes.
É o caso deste excerto do Prof. João Caraça no discurso do 10 de Junho de 2016, como Presidente da Comissão Organizadora. Ora, leiam devagar: “A memória das gentes portuguesas e o seu formidável contributo para a revolução geográfica da modernidade, mostrando a existência de novos territórios, de novos povos desconhecidos «e o que mais é – de novos céus e novas estrelas» na frase magistral de Pedro Nunes, dão-nos a autoridade moral para falarmos, neste dia, em nome da humanidade.” Releiam bem. É, na verdade, fantástico.
Hoje em dia, há gente a desdenhar dos Descobrimentos, a ter medo da palavra e do conceito, a procurar escondê-los depois de os terem poluído com outras coisas, reais ou inventadas. Há abordagens infantis, como: “a nós ninguém descobriu, nós já cá estávamos”.
Os Descobrimentos são acontecimento fundamental da História da Humanidade, porque, viagem a viagem, nos deram o mundo. Deram o mundo a todos. O último grande marco dessa gesta é a demonstração de o mundo ser redondo, pela primeira circum-navegação de Fernão de Magalhães há 500 anos. Sim, descobrimos o Brasil e os povos do Brasil, como eles também nos descobriram a nós no mesmo momento. Desvendámos toda a costa africana e seus povos e eles a nós também. Rasgámos novas rotas para a Índia e o Oriente. Chegámos às Américas, que ninguém conhecia, nem sequer muitos povos americanos entre si. Pusemos em contacto. Revelámos. Na verdade, descobrimos e demos a descobrir.
Os Descobrimentos são uma conquista de conhecimento e de comunicação, um feito científico de primeira grandeza. E, na sua esteira, uma revolução cultural, comercial e económica, estas últimas com suas grandezas e misérias. O mais fantástico resume-se na frase de Pedro Nunes, citada por João Caraça: «novos céus e novas estrelas», que não tinham, nem têm qualquer dono ou possuidor.
O Prof. João Caraça denomina de forma lapidar este grande feito da nossa História: a “revolução geográfica da modernidade”. Como um povo de um milhão de habitantes (o que éramos no sec. XV) foi capaz de o fazer, aventurando-se mar adentro em pequenas e frágeis naus, é merecedor de espanto. Absolutamente admirável. Isso é, para nós, portugueses, uma enorme responsabilidade. E também vocação e capital.
João Caraça acrescentou no mesmo discurso: “Portugal está em terra, nos mares, nos ares e, em breve, espero, no espaço.” E concluiu assim: “Os ares de Portugal são bons para o engenho e para a perseverança. Foram eles que nos levaram e continuam a levar a todas as partes do mundo. O mundo é a nossa casa. Viva Portugal! Vivam os Portugueses!”
É. Temos de manter e de continuar a viagem.
José Ribeiro e Castro
Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal
BOLETIM DA SHIP, 28.Dezembro.2020
Editorial
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