As eleições presidenciais e a crise aberta no CDS
Um facto curioso da actualidade política é a absoluta falta de sentido e até de vergonha. Não é só no PS, infelizmente. Há no CDS quem queira proteger a esquerda e o PS.
Não se consegue perceber o que passa pela cabeça de um grupo de militantes do CDS, alguns com altas responsabilidades, para abrirem uma crise no seu partido dois dias depois das eleições presidenciais.
O tempo era de festa e de alívio. Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito com ampla maioria, aumento significativo da percentagem e do número de votos, apesar do clima adverso da pandemia e da agressividade de que foi objecto. E o CDS decidira – e muito bem – apoiar a recandidatura e a reeleição. Estava, portanto, dentro do campo vencedor. Podia, agora, partir mais confortável para enfrentar e superar o desafio decisivo das autárquicas, já em Outubro.
O mesmo no PSD, cujo apoio a Marcelo também provou absoluto acerto político e estratégico. Por isso, concentrando-se nas autárquicas, logo iniciou conversações entre Rui Rio e Rodrigues dos Santos, para desenhar um acordo entre os dois partidos, que é determinante para vencer as autárquicas sobre a esquerda, isto é, retirar ao PS a maioria das Câmaras Municipais.
O que faz, então, correr os contestários do CDS? Que sentido faz atacar mortalmente a direcção do partido, dois depois de ter averbado uma vitória estratégica para o partido? Será para esmurrar o êxito e obscurecer-lhe o brilho e o acerto?
Que sentido faz abrir uma frente de ataque à Direcção, em cima do dia em que foi conhecido o encontro Rui Rio/Rodrigues dos Santos? Será para sabotar o processo negocial, minar as candidaturas do CDS e favorecer nova vitória do PS?
Para compreender há que recordar o último Conselho Nacional do CDS, de 12 de Dezembro, em que, graças à direcção de Francisco Rodrigues dos Santos, o partido votou, por muito larga maioria, em favor do apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Este apoio obteve 153 votos a favor e 34 contra, havendo 28 abstenções. Porém, tendo sido esta a dimensão do apoio, o que foi a maior notícia? A maior notícia foram os ataques violentos dos contestários de agora contra o Presidente da República. O que o país mais ouviu foram palavras de crítica feroz e até de enxovalho dirigidas por deputados do CDS contra Marcelo. E o país ouviu, como? Ouviu porque, aproveitando a reunião online, facultaram aos jornalistas, em directo, as suas graçolas e ataques pessoais e políticos, em quebra das regras do Conselho e da dignidade institucional do seu partido. Isto faz-se? Aceita-se em garotos. Mas admite-se isto a deputados e figuras com currículo dirigente?
Uma razão para esta crise aberta por Adolfo Mesquita Nunes e seus apoiantes é, na verdade, mau perder. Não foi só a esquerda que perdeu estrondosamente as presidenciais. Não foi só a Iniciativa Liberal que ficou muito aquém da “onda” e do “vendaval” que ainda proclamou. Foram também – vê-se – os pregadores dentro do CDS da estratégia do desastre que perderam. E perderam com estrondo.
Se tivessem hombridade e vontade de contribuir para o crescimento do seu partido, apresentar-se-iam no próximo Conselho Nacional a reconhecer o erro em que militaram e a felicitar o Presidente e a maioria dos conselheiros pelo acerto da posição escolhida e pela inteligência estratégica revelada.
Não é provável que o façam. Mas imaginemos, só por um momento, em que posição teria ficado o líder do CDS, na noite de 24 de Janeiro, se tivesse caído na esparrela, seguido o conselho e vergado à pressão de tão sábios guias. Como estaria, agora, o CDS se tivesse rompido com Marcelo? Como estaria, hoje, se tivesse abandonado a sua estrada? Onde estaria, se tivesse apresentado um candidato próprio? Como estaria, encurralado ao lado da IL, do Chega e de Tino de Rans?
O Presidente do CDS, aí sim, mereceria censura. Já não teria ao seu lado por certo os sabichões que para o desastre o tivessem empurrado. Estes, como de costume, com a bravura habitual, teriam fugido de fininho, assobiando para o lado. Mas são eles que verdadeiramente merecem a censura do partido: pelo erro crasso para onde quiseram empurrar e pela deslealdade com que o fizeram. O próximo Conselho Nacional não deve esquecer o anterior.
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