Marca Portugal, independência e futuro


É importante – e prometedora – a notícia, saída no “Expresso”, do movimento Marcas por Portugal, lançado por 21 figuras da sociedade civil, dos meios empresarial e social, que quer também “fortalecer a marca Portugal”. O grupo visa estimular a projecção de Portugal como marca e de marcas associadas a Portugal. Carlos Coelho, da Ivity, aponta para “promover a afeição dos portugueses à marca do seu país, assumindo a missão de valorizar Portugal em tudo o que se faz” e “colocar na agenda a transição para o valor acrescentado, com marcas”.

Esta visão entusiasma. Há muito que fechei no sótão das arcas encoiradas o discurso medíocre do país pequeno e periférico, pobre e sem recursos, a que ninguém liga e que não conta. É falso. Um país de que um navegador mostrou que o mundo é redondo só por distração se sente periférico: na Terra redonda, quem está mais longe de uns está mais perto de outros. O desafio é saber definir e prosseguir a própria centralidade. 

O que importa é identificar os nossos recursos e valorizá-los perante o mundo, a Europa e nós mesmos. Na teoria que, sobre Portugal, defini para mim próprio dos “cinco recursos e uma circunstância”, três dos, a meu ver, recursos estratégicos do país têm a ver directamente com a marca Portugal e seu enorme potencial: a língua, a História e a posição geográfica. A língua comum com outros abre, cumplicidades em todos os cinco continentes – valor preciosíssimo. A História fez-nos actores da primeira globalização, dando-nos fortes aptidões e reconhecimento para estarmos à vontade no mundo global dos nossos dias. E a posição geográfica parece escolhida de propósito – foi, de resto, desta geografia que irradiaram aquela História e a língua, como terceira língua europeia global, língua mais falada do hemisfério Sul.

Na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, de que, hoje, sou Presidente, não temos uma visão passadista, mas ambiciosa e exigente sobre o futuro. Sabemos que a independência nacional não se pendura no cabide; só é valor real e seguro se estiver bem viva, assentando em espírito colectivo ousado e confiante, economia dinâmica com crescimento efectivo, finanças sólidas. Nenhum país de mão estendida é independente, nem assegura boas condições ao seu povo e às novas gerações. Há sempre alguns a ganhar com a distribuição dos fundos, dados ou emprestados, mas o país e o povo só ganham se esses fundos forem investimento reprodutivo que realmente rasgue, alicerce e fortaleça a capacidade de crescer. Queremos crescimento económico acima da média europeia como prioridade nacional para as próximas décadas, deixando para trás o medíocre voo de perdiz, paralelo ao chão, das últimas décadas.

A crença geral na marca Portugal é poderoso motor desse desígnio, alimentando a nossa auto-estima e confiança, o nosso brio e propósito. Ao mesmo tempo, incutir nos actores económicos, sociais e culturais espírito competitivo para mercados abertos, despertando todos a fugirem do a granel e afirmarem marcas reconhecidas, que individualizem e conquistem escolha e preferência, é criar valor acrescentado e fazer mais depressa a viagem do sucesso.

O que fazemos na Sociedade Histórica é gostar de Portugal e cultivar esse gosto. Sabemos que é o alimento do futuro. Com sucesso e com marca – isto é, com muitas marcas portuguesas, nas empresas e na cultura, na universidade e nas entidades sociais. 

Queremos em 2040 estar nos cinco Estados da frente na União Europeia. Antes até, se formos capazes. Possível é. Só falta ver se somos mesmo capazes.


José Ribeiro e Castro
Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, advogado

DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 17.Março.2021

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