100.º ano


Raramente nos damos conta: quando festejamos um ano, começa logo o ano seguinte e não esse que festejámos. Quando fizemos 20 anos, não continuamos nos 20: entrámos nos 21. Quando festejámos 45, começámos os 46 que só festejaremos no fim.

Adriano Moreira, intelectual e professor, humanista de inspiração cristã, que também foi político e projecta esta sua marca, fez 99 anos na segunda-feira, 6 de Setembro. Ou seja, começou ontem o seu 100.º ano, que, se Deus quiser, festejaremos daqui por cerca de um ano.

Em 2012, quando Adriano Moreira fez 90 anos, organizámos (o Narana Coissoró, o Viriato Soromenho Marques e eu), com o apoio impagável da Catarina Severino, um jantar de homenagem e celebração de várias das suas facetas. Para apoio a essa iniciativa, eu tinha lançado um grupo e uma página no Facebook, chamados “Adriano Moreira – 90 anos”. Cumprido o propósito, pôs-se a questão de os fechar. Decidi, porém, mantê-los, unicamente para divulgar intervenções de Adriano Moreira, artigos, conferências, entrevistas, actos em que participa. As regras destas páginas têm essa regra enunciada: somente publicações que digam respeito a artigos, livros, entrevistas ou outras intervenções públicas do Prof. Adriano Moreira.

Assim tem sido nestes nove anos, sendo a publicação mais frequente a republicação no Facebook das crónicas que, pontualmente, todas as semanas, Adriano Moreira escreve no “Diário de Notícias”. Há um ano, porque estávamos a aproximar-nos de hoje, mudámos para “Adriano Moreira – 99 anos” e, ontem, “Adriano Moreira – 100.º ano”.

Impressiona a sua actualidade: Adriano Moreira não ficou há 30 ou 20 anos, quando se foi jubilando de várias funções e responsabilidades que exerceu. Vê-se que continua atento, informado, actual. Homem de vasta cultura política e histórica, senhor de grande experiência e conhecimento da política internacional, segue e comenta quer com a sua antiga e sábia bagagem, quer com textos recentes e os pactos mais contemporâneos.

Espanta a genuína admiração de milhares de portugueses que, no Facebook, o assinalam amiúde, incluindo a fiel e respeitosa gratidão de muitos, quiçá todos, dos seus alunos e alunas. É verdade: Adriano Moreira talvez seja sobretudo um professor, o mestre, como mostram, por exemplo, as mais características expressões que repete centos de vezes – como “o eixo da roda” –, ao modo de quem dá a mesma aula a alunos de várias gerações e repete, por isso, conceitos estruturais seus que gosta de transmitir, para que os gravem se os quiserem e lhes possam ser úteis nas suas vidas.

Por singular coincidência, anteontem, 6 de Setembro, dia em que fez 99 anos, passaram exactamente 60 anos sobre a publicação de um dos mais famosos decretos-leis da sua vida: a abolição do Estatuto do Indigenato, uma lei justa, que fez avançar a construção da cidadania no melhor espírito português.

Foi também Adriano Moreira, já fora do governo, onde esteve pouco tempo, a organizar, em 1964 e 1967, o primeiro e o segundo Congresso das Comunidades Portuguesas, que precavia e apontava o futuro: solidariedade a partir da base, encontro de iguais, numa palavra Comunidade, espírito, hoje, entregue a espaços como a UCCLA e a CPLP.

Deu muitos anos da sua vida à construção da democracia e, sem disso precisar, quis servir o CDS, de que foi deputado, dirigente e Presidente. Aqui gerou, como em vários troços e postos da sua vida, numerosos seguidores e admiradores. Por que acontece isto com ele? Porque existe. Adriano Moreira é uma daquelas pessoas para quem se olha e vê-se logo que é.

O que os amigos desejam é que este 100.º ano lhe seja suave e descansado, feliz e saudável. Queremos apenas sabê-lo presente e bem. E sentimo-nos orgulhosos quando nos perguntam: Centésimo Ano? Isso é o quê? Há dois: um, a encíclica de São João Paulo II; outra, Adriano Moreira.

Parabéns!


José Ribeiro e Castro
Ex-líder do CDS, advogado

DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 8.Setembro.2021


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