Os dias da Independência
A independência nacional é o bem maior dos povos, das nações e dos Estados. Sem ela, não teriam cidadania internacional e, com alguma participação ou nenhuma, seriam governados por outros.
No nosso caso, foi até a independência nacional que nos fez. Como gosto de chamar a atenção, não havia portugueses antes de haver Portugal. Foi o Reino de Portugal, fundado no século XII, que foi definindo o espaço onde nos fomos fazendo, geração após geração. Foi também esse Reino que, já no último quartel do século XIII, um século depois da independência, assumiu e definiu como língua oficial do país a língua específica que aqui se fora formando. Sem independência, não teríamos sido povo e nação, nem teríamos língua.
Quanta gratidão temos por esses dias que nos formaram!
A independência não é obviamente a exclusão de todos os outros. Pelo contrário, fortalece-se com o convívio aberto com todos os outros. E fortalece-se tanto mais quanto mais pacíficas forem as relações internacionais e, assim, mais fluido, intenso e amplo o relacionamento externo. Só visões belicistas, extremistas e agressivas pregam a exclusão dos demais, acabando por pôr muitas vezes em sério risco a independência que encerram numa trincheira.
O facto de integrarmos estruturas internacionais e as defendermos, como a Aliança Atlântica ou a União Europeia, ou a ONU, o FMI, a OCDE, a OIT, ou tantas outras, não destrói, nem diminui a independência nacional. Não devemos deixar que alguma vez a comprometa, pois são expressão da liberdade do nosso relacionamento externo. Aliás, sempre houve alianças ou outros modos de relações privilegiadas entre Estados, que não só nunca afectaram a independência dos Reinos, como frequentemente se dirigiram a protegê-la e garanti-la face a inimigos comuns. É o caso da nossa “mais velha Aliança” com a Inglaterra.
A nossa Sociedade Histórica, embora fundada em torno do 1.º de Dezembro e da Restauração, nunca esqueceu que a independência de Portugal, que recuperámos em 1640, é um bem mais antigo. Entre as datas históricas que celebramos, festejamos o triunfo de S. Mamede (24 de Junho de 1128), festejamos a vitória em Ourique (25 de Julho de 1139), festejamos a Manifestis Probatum (23 de Maio de 1179), que coroou na comunidade internacional da época a nossa Fundação. E festejamos o 5 de Outubro de 1143 que, em Zamora, nos separou amigavelmente do Reino de Leão de onde proviera o Condado Portucalense original. Grande foi a obra política, militar e diplomática do nosso primeiro Rei, o notável Afonso Henriques. Curiosamente, este é também o dia em que o país comemora a implantação da República, em 1910.
São datas, memórias, marcas e referências fundamentais, algumas sagradas, que não queremos desvalorizar, não podemos misturar com mais nada, não deixamos abalar. São valores que devemos assinalar abrangendo todos os que somos, não transformando datas nacionais em fonte de exclusão, nem arma de arremesso. Assim o fizemos sempre; assim o faremos de novo neste 5 de Outubro de Zamora, data marcante do nosso percurso fundacional.
Como outras datas fundamentais da Pátria de todos, os dias da Independência são dias maiores para a união entre todos os Portugueses. Esse é o espírito que serve Portugal.
Editorial
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