Celebração do Tratado de Zamora (1143), dia da Independência


Meus amigos,
Portugueses

A independência nacional é o bem maior dos povos, das nações e dos Estados. Sem ela, sem independência nacional, não teriam cidadania internacional e, com alguma participação própria ou nenhuma, seriam governados por outros. Já vimos e vemos vários exemplos assim no mundo e nós próprios tivemos essa experiência de governo por um rei estrangeiro, durante seis décadas da nossa história.

No nosso caso, no caso de Portugal e dos portugueses, é mais do que isso: foi a independência nacional, foi até a independência nacional que nos fez. Não fomos nós que fizemos a independência nacional, foi a independência nacional que nos criou progressivamente, povo livre e independente, próprio e com uma identidade inconfundível. Como gosto de chamar a atenção, não havia portugueses antes de haver Reino de Portugal. Foi o Reino de Portugal, fundado no século XII, que foi definindo o espaço onde nos fomos fazendo, geração após geração, sob a protecção dos nossos reis e rainhas e a sua referência. Foi também esse Reino que, já no último quartel do século XIII, um século depois da independência, assumiu e definiu como língua oficial do país a língua específica que aqui se fora formando e que é, hoje, uma das mais relevantes línguas universais.

Dizendo de outro modo: sem independência, não teríamos sido povo e nação, nem teríamos língua. Devemos tudo isso ao nosso primeiro Rei, ao nosso Rei Fundador, e à ousadia, à bravura, à inteligência e à sabedoria da sua acção. Quando procuramos recuar mentalmente até esse tempo e, imaginando as dificuldades do tempo, voltamos a percorrer os apenas 51 anos que vão da batalha de S. Mamede à bula papal Manifestis Probatum, percebemos melhora extraordinária magnitude do que esse Rei imaginou, construiu e conseguiu. Foi meio século de enormes consequências: consequências para nós e, por nosso intermédio, através dos Descobrimentos e dos que contactámos, também consequências para o mundo. A independência não foi apenas condição para sermos livres, mas causa e circunstância para toda a nossa existência. Não teríamos sido possíveis sem ela. Quanta gratidão temos, quanta gratidão sentimos por esses dias que nos formaram!

A independência não é obviamente a exclusão de todos os outros, como alguns com má-fé ou ignorância confundem. Pelo contrário, a independência fortalece-se com o convívio aberto com todos os outros povos e países. E fortalece-se tanto mais quanto mais pacíficas forem as relações internacionais e, assim, mais fluido, intenso e amplo o relacionamento externo. Só visões belicistas, extremistas e agressivas pregam a exclusão dos demais, acabando, desse modo, por pôr muitas vezes em sério risco a independência encerrada numa trincheira. A independência não é uma barricada, a independência é uma liberdade. A independência não é a negação dos demais, a independência é a própria afirmação.

O facto de integrarmos estruturas internacionais e as defendermos, como a Aliança Atlântica ou a União Europeia, ou as nações Unidas, o FMI, a OCDE, a OIT, ou tantas outras, não destrói, nem diminui a independência nacional. E não devemos deixar que alguma vez a comprometa, pois só podem ser a expressão da liberdade do nosso relacionamento externo. Aliás, sempre houve alianças ou outros modos de relações privilegiadas entre Estados, até militares, que não só nunca afectaram a independência dos Reinos, como frequentemente se dirigiram a protegê-la e a garanti-la face a inimigos comuns. É o caso da nossa “mais velha Aliança” com a Inglaterra e também o da NATO.

A nossa Sociedade Histórica, embora fundada em torno do 1.º de Dezembro e da Restauração, nunca esqueceu que a independência de Portugal, que recuperámos em 1640, é um bem muito mais antigo, cinco séculos mais antigo.

Entre as datas históricas que, no quadro da nossa Missão e Estatutos, celebramos, festejamos o triunfo de São Mamede (em 24 de Junho de 1128), festejamos a vitória em Ourique (em 25 de Julho de 1139), festejamos a Manifestis Probatum (em 23 de Maio de 1179), que coroou na comunidade internacional da época a nossa independente, concluindo o ciclo político, militar e diplomático da Fundação. E festejamos, como neste dia de hoje, o 5 de Outubro de 1143 que, em Zamora, nos separou amigavelmente do Reino de Leão de onde proviera o Condado Portucalense original.

Grande foi a obra política, militar e diplomática do nosso primeiro Rei, o notável D. Afonso Henriques! Curiosamente, este é também o dia em que o país comemora a implantação da República em 1910.

São datas, memórias, marcas e referências fundamentais, algumas sagradas, que não queremos desvalorizar, não podemos misturar com mais nada, não deixamos abalar. São valores que devemos assinalar abrangendo todos os que somos, não querendo datas nacionais como fonte de exclusão, ou arma de arremesso. Assim o fizemos sempre; assim o fazemos de novo neste 5 de Outubro de Zamora, data marcante do nosso percurso fundacional, marco de início de uma longa e notável história já à beira de festejar 900 anos. 900 anos! É fantástico. 900 anos! Como seria improvável que isto acontecesse.

Foi uma paz e um acordo entre primos, muito empurrada pela acção diplomátca do arcebispo de Braga, D. João Peculiar, e logo abençoado in loco pelo enviado do Papa, o cardeal Guido di Vico: o Condado passa a Reino. Afonso VII de Leão reconhece como rei seu primo Afonso I de Portugal. Singular modo de nascermos independentes!

Como outras datas fundamentais da Pátria que é de todos, os dias da Independência são dias maiores para a união entre todos os Portugueses.

Esse é o espírito que serve Portugal.

Viva Portugal!

Viva a independência de Portugal!




José Ribeiro e Castro
Presidente da SHIP

Castelo de S. Jorge, 5 de Outubro de 2021 

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