Outras notas à boca das urnas


Domingo, fui tomando notas de leitura das autárquicas, à medida que os resultados saíam. Já escrevi noutro artigo sobre os principais destaques: nova subida da abstenção, os resultados do CDS e a eleição de Carlos Moedas, a maior surpresa da noite. Hoje, abordo outros.

Primeiro, Santana Lopes e a Figueira da Foz. É vitória pessoal de Santana, que os resultados bem mostram e as sondagens anunciavam. É também uma derrota estrondosa dos aparelhos, em especial do PSD. É impossível aceitar como isto aconteceu. As estruturas dos partidos existem para conhecer e representar o terreno que pisam. Devem conhecê-lo melhor que quaisquer outros. E devem ser sérios e objectivos nas análises e conclusões. Não estão lá para representar interesses pessoais ou de grupo, mas para pré-representar a realidade eleitoral. O caso da Figueira demonstra fracasso por incompetência. Santana Lopes, não vivendo lá sempre, conhece melhor a Figueira e os figueirenses do que os chefes locais dos partidos da sua área. Não é só ter ganho; é ter dado um capote. É deplorável que, sendo este o quadro, não fosse feita coligação para apoiar Santana, que, diga-se o que se disser, também pertence ao espaço da alternativa ao PS. Esperemos que acabem os ataques de ressaibo contra ele e todos se concentrem no essencial: bom governo na Figueira, alternativa de centro e direita para 2023.

Fernando Ruas, regressado a Viseu, fez a intervenção mais forte e mais engraçada da noite eleitoral. Mostrou-se em grande forma. Anunciou que vai exigir o cumprimento, uma por uma, de todas as promessas que, começando pelo secretário-geral do PS (por acaso, também primeiro-ministro), o Governo andou a fazer aos viseenses para enrolar o seu voto. É uma grande linha política. Os portugueses esperam que Ruas o faça, de modo completo e meticuloso, não permitindo que Viseu seja privado daquilo que o Governo prometeu. A Câmara deve exigir. O Parlamento, em Lisboa, deve fiscalizar. O caso deve ficar como exemplar. Para memória futura.

A ampla aliança em Coimbra premeia a persistência de um independente, o médico José Manuel Silva, antigo bastonário, conimbricense dedicado. É um caso em que sobressai a inteligência das coligações e alianças, como faltou na Figueira. E faltou também noutros concelhos em que o egocentrismo ofereceu a vitória à esquerda, como Tomar e outros que importa analisar.

A magnífica vitória de Carlos Moedas não pode derrapar para lisboetismo. Os triunfos do centro e da direita aconteceram por todo o país. É facto fundamental que não pode ser esquecido. Na área PSD/CDS, foi nas coligações que aconteceu o maior triunfo: tinha havido 19 coligações vitoriosas em 2017; agora, foram 42 em 2021, da cidade da Horta à Mêda. O PSD sozinho baixou 7; o CDS sozinho manteve posições. É a união em geral que fez a diferença. Todos aquelas 42 merecem realce: foram essas que deram o tom da vitória e o sinal da mudança. No Alentejo foi brilhante, com relevo para Portalegre e Vila Viçosa – aqui, com o sabor especial de alcançar a maioria absoluta dos votos (51,5%, depois de 9,5% há quatro anos) e ter conquistado a Câmara directamente ao PCP, sem passar pelo PS.

Surpreendeu-me ter visto que Susana Garcia, a “fascista”, liderava uma lista com multietnicidade. Como várias vezes tenho escrito, isto é fundamental em democracia, na linha da “maneira portuguesa de estar no mundo” de que muitos falam, sem praticar. É linha que mais se impõe em eleições autárquicas e, em especial, em comunidades como a da Amadora. Gostei de ver e de saber. A vereadora luso-chinesa foi eleita; o candidato de origem cabo-verdiana infelizmente ainda não. Importa insistir e ampliar o exemplo. É o bom caminho.

Mau caminho, ao contrário, seguiu o Bloco de Esquerda, ao candidatar vários membros da extinta organização terrorista FP25 – contaram-se oito casos. É um caso tristíssimo da vida portuguesa com vários crimes de sangue horrorosos em que a justiça foi parada antes de chegar ao fim. Alguns perguntam: mas não pode haver perdão? Pode. Mas o perdão pressupõe o cumprimento das penas quando as houve; e implica sempre que o agente declare (e realmente mostre) arrependimento. O escândalo do caso FP25 é não ter sido assim. Não sei se a quebra política do BE, um dos derrotados da noite, se deveu, ao menos em parte, a esta insensibilidade chocante. Seria bom sinal. Partido político que, envolvendo crimes de morte, candidate a eleições criminosos impenitentes merece que os eleitores o reduzam a zero. Nunca mais!

Enfim, Carlos Carreiras eleito para o último mandato. Sempre apoiado pela coligação PSD/CDS, serve Cascais sempre a subir: 42,7% em 2013, 45,9% em 2017, 52,5% em 2021. Nem precisa que lhe dê parabéns: foram os eleitores que o fizeram directamente com esta retumbante prova de gratidão e confiança para o terceiro mandato. Grande Presidente!


José Ribeiro e Castro
Advogado, ex-líder do CDS
Presidente da APDQ - Associação Por uma Democracia de Qualidade

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1.Outubro.2021

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