Infante, o navegador do futuro



O Infante D. Henrique é das maiores figuras de Portugal, da nossa História e da nossa natureza e identidade. Não sendo o fundador – título que pertence ao nosso grande rei D. Afonso Henriques –, o Infante é o abridor da nossa alma e o grande definidor da nossa identidade.

O Infante é, com justiça, a figura que encabeça os 33 notáveis representados no monumental Padrão dos Descobrimentos, em cima do Tejo, em Belém, na capital do país. O que ele iniciou, orientou e desenvolveu não tem par na História de Portugal, marcou quase seis séculos da nossa existência como país (contando-os desde Ceuta, em 1415) e deixou uma marca que definiu para o futuro a nossa identidade, como alma e cultura, como povo e nação. Os caminhos que ele abriu e os laços que permitiu estabelecerem-se nunca mais se apagaram. Hoje, olhando quer para trás, quer para dentro de nós, não conseguimos sequer imaginar como poderíamos ser diferentes. Ficámos marcados, fomos definidos.

Há quem diga muita asneira a propósito dos Descobrimentos, contestando a própria palavra e seu conceito. Dizem: “Ninguém nos descobriu, nós já cá estávamos.” Claro que estavam; se não estivessem, não podiam ter sido descobertos. E os Descobrimentos também são recíprocos: quem descobrimos, também nos descobriu ao mesmo tempo.

Os Descobrimentos nem foram tanto de terras, povos e culturas; foram sobretudo de rotas que nos levaram “por mares nunca dantes navegados”, revelando, pela primeira vez, todo o mundo a todo o mundo. É um feito extraordinário – não só da História de Portugal, mas da História da Humanidade. Falta ainda fazer o Museu, que deve morar aqui, em Portugal, por ser tão destacado o contributo português para o mundo.

O mar foi o caminho: abriu-nos a universalidade, ampliou-nos a mestiçagem, fez global a nossa língua, granjeou-nos notoriedade mundial. Éramos apenas um milhão e espalhámo-nos por toda a parte. Não só por conquista (como era costume do tempo), mas sobretudo por relações comerciais e culturais e por interacção diplomática fora do mundo até então conhecido. Uma proeza fantástica.

Tudo isto começou com a visão, a ousadia e a competência do Infante D. Henrique. Foi isso que fomos saudar ao Porto, no passado 4 de Março, numa organização do nosso Círculo do Mar. Continuando a descentralizar a Sociedade Histórica, aqui queremos voltar todos os anos, no dia e à cidade em que o Infante nasceu. Não é pelo passado. É para o lembrarmos, olhando como ele olhava: pelo Mar para o Futuro.

O Infante é visão e ambição, exactamente aquilo de que precisamos.

José Ribeiro e Castro
Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal

BOLETIM DA SHIP, 31.Março.2022
Editorial

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