Forais de Portugal, os municípios da Fundação
Já, uma vez, escrevi aqui sobre este tema. Foi na crónica “Novecentos anos”, no n.º 157 da MAIS ALENTEJO, em Jul/Ago 2021. É um tema sobre que reflicto e procuro agir desde 2020. Um tema poderoso. Sobretudo porque não o limito a só um dia ou só um ano, mas vejo-o numa janela de cerca de 50 anos, de 2028 a 2079, em que devemos estar conscientes de estarmos a fazer 900 anos, como país, como povo, como nação.
Não haverá festa todos os dias, é óbvio. Mas viveremos sob esse selo e com esse sopro e inspiração. Fantástico! Há poucos os países com esta maturidade e experiência.
Celebrarmos os 900 anos da Batalha de São Mamede (24 de Junho de 1128), 900 anos da Batalha de Ourique (25 de Julho de 1139), 900 anos da conferência de Zamora (25 de Julho de 1143) e 900 anos da bula papal Manifestis Probatum (23 de Maio de 1179) define e baliza um espaço de cinco décadas para fortalecermos a auto-estima, alimentar o conhecimento sobre nós próprios, robustecermos a identidade, desde há nove séculos. Uma extraordinária fonte de energia atravessará este século XXI, ajudando-nos a crescer e a ir mais além em todos os domínios da nossa vida colectiva e nacional.
Na Sociedade Histórica da Independência de Portugal (www.ship.pt), estamos a trabalhar já nessa perspectiva, divulgando o propósito dos “50 anos para festejar 900” e esboçando projectos, sonhos, novas linhas de trabalho histórico-cultural.
A última ideia surgiu há pouco, quando, a convite da Grã Ordem Afonsina, me preparava para ir a Guimarães, em 5 de Outubro passado, falar da Batalha de São Mamede – o nosso marco inicial, tão querido aos vimaranenses – e projectá-la no resto do processo fundador. A ideia que surgiu é a que está no título: Forais de Portugal, os municípios da Fundação.
O que é isso? E o que se pretende? Trata-se de agregar os concelhos que receberam foral de D. Afonso Henriques – e também os anteriores, do período condal, dados pelo pai, o Conde D. Henrique, ou pela mãe, D. Teresa. Estes municípios com foral são, afinal, os existentes no reinado do nosso Fundador: os Forais de Portugal, porque coevos do nascimento de Portugal.
Já fizemos um primeiro levantamento:
- Com D. Afonso Henriques, de 1128 a 1143: Guimarães, Numão (em Foz Côa), Seia, Miranda do Corvo, Ansiães (em Carrazeda de Ansiães), Penela, Germanelo (em Penela) e Leiria;
- E de 1143 a 1185: Arouce (na Lousã), Freixo de Espada à Cinta, Mesão Frio, Foral de Banho (S. Pedro do Sul), Sintra, Trancoso, Redinha (em Pombal), Vila Verde dos Francos (em Alenquer), Celeirós (ou Celeirós do Douro, em Sabrosa); Lourinhã, Tomar, Mós (em Torre de Moncorvo), Évora, Barcelos, Linhares da Beira (em Celorico da Beira), Souto (em Ponte de Lima), mouros forros de Lisboa, Almada, Palmela e Alcácer do Sal, Monsanto (em Idanha-a-Nova), Pombal, Coimbra, Lisboa, Abrantes, Marialva (na Mêda), Santarém, Ourém, Coruche, Valdigem (em Lamego), Urrós (em Torre de Moncorvo), Caldas de Aregos (em Resende), Palmela, Melgaço, Moreira de Rei (em de Trancoso) e Celorico da Beira.
- E, recuando a 1095-1112, com D. Henrique: Guimarães, Constantim (em Vila Real), Azurara da Beira (Mangualde), Tentúgal (em Montemor-o-Velho), Sátão, Coimbra, Soure, Tavares (em Mangualde); e a 1112-1127, com D. Teresa: Arganil, São Martinho de Mouros (em Resende), Viseu, Porto, Sernancelhe, Ponte de Lima, Ferreira de Aves (no Sátão).
São terras de muita tradição, localizadas sobretudo no Norte e Centro (Minho, Trás-os-Montes, Douro e Beiras), mas que se vão alargando para Sul (Beiras, Estremadura, Ribatejo e Alentejo), no avanço da chamada Reconquista, sob a liderança forte do nosso primeiro rei.
É este grupo que importa definir, conhecer e consolidar, na afirmação da sua antiguidade portuguesa e no orgulho da sua histórica, como raízes mais fortes e troncos mais sólidos da fundação do nosso país há 900 anos. A ideia que alimento é arrancarmos em 2028, sob legítima liderança vimaranense e apoiados, de forma descentralizada, multipolar, com todos estes Forais de Portugal, nos municípios da Fundação.
Grande gesta a que temos por diante. Que magnífico é ter Portugal a celebrar 900 anos!
José Ribeiro e Castro
Advogado
MAIS ALENTEJO, 1.Novembro.2022
Crónicas "AQUÉM-GUADIANA"
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