Desagravo ao Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente
Em entrevista ao EXPRESSO, dias antes da Jornada Mundial da Juventude, a entrevistadora, mulher de renome e muita experiência, definia o entrevistado: «Admirado pela humildade, cultivando a simplicidade e a proximidade, D. Manuel Clemente serviu a Igreja como sempre entendeu que deveria ser servida: atendendo à fidelidade, mas sabendo ler o que o tempo ia trazendo, compaginou sempre as duas dimensões.» É uma definição justa. Querer fritá-lo no ódio temporal é uma injustiça ignóbil e desprezo indigno da sua vida de serviço.
Por causa de Lisboa (com Loures) dar o nome do Cardeal-Patriarca à ponte pedonal no Campo da Graça da JMJ, li e ouvi uma senhora em fúria, em nome de uma petição contra, dizer à rádio que “D. Manuel Clemente não merece o ar que respira” e “só merece ter o nome na sua campa”. Quem pode dizer isto? O ódio extremista e violento qualifica-se a si mesmo.
O tema dos abusos sexuais é forçado, mesmo com campanha bem montada. D. Manuel Clemente é dos bispos que mais trabalhou pela mudança da Igreja neste tema tão escandaloso e doloroso, quanto, por isso mesmo, exigente. Aplicou as orientações do Papa Francisco, na diocese e na Conferência Episcopal. Se compararmos o que acontecia há dez, cinco, três anos com o que é, hoje, internamente e perante a justiça, a resposta institucional às denúncias, vemos a transformação enorme. A mudança fez-se com determinação, as últimas medidas já depois da Comissão Independente. Após a JMJ, o Papa disse-o aos jornalistas, no avião: «O processo na Igreja portuguesa está a andar bem e com seriedade. Estou informado do modo como correm as coisas.» Esta é a verdade substancial e objetiva, que não se confunde com salpicos na turbamulta.
O nome da ponte não importa para nada, o bom nome do Patriarca importa para tudo. D. Manuel Clemente é figura notável da Igreja e da cultura portuguesa, Prémio Pessoa em 2009. Teólogo e historiador, publicou dezenas de livros sobre cristianismo, história, Portugal, a Igreja, os portugueses, o pensamento. Teve vários cargos eclesiásticos sem nunca deixar de ser o simples sacerdote. E é, digo eu, sob palavra de honra, homem bondoso, generoso e vertical.
É ainda verdade que, se a alguém especificamente devemos a JMJ em Lisboa, é a D. Manuel Clemente. Como bispo de Lisboa, juntou os sonhadores e chegou-se à frente, antes do anúncio em 2019, assegurando a congregação dos meios e obtendo o acordo de Roma e do Papa.
Foi em nosso nome que, no fim, ao lado do Tejo, o Cardeal-Patriarca de Lisboa agradeceu ao Papa ter feito «desta bela terra de Lisboa e de Portugal a terra de uma multidão provinda do mundo inteiro» e a Francisco «as vossas mensagens de estímulo, tão sugestivas e mobilizadoras.» Devemos agradecer ao nosso Patriarca ter-se lembrado de lançar a semana JMJ, tão única e extraordinária que ainda não se dissiparam a alegria, o entusiasmo, o ânimo, a maravilha e a emoção com que nos regou. Eu agradeço. Muito obrigado por nos ter trazido o Papa e a juventude do mundo.
José Ribeiro e Castro
Antigo deputado e dirigente do CDS
EXPRESSO, 18.Agosto.2023
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