Os símbolos nacionais e o Governo
Como se não tivéssemos problemas suficientes, o governo terá criado outro de motu proprio: a inesperada manipulação dos símbolos nacionais em nova “identidade visual”. Escrevo “terá”, porque ainda não sabemos, com absoluta certeza e rigor, se foi mesmo assim.
No fim de Novembro, o assunto surgiu na comunicação social, com várias críticas e interrogações. O governo viu, leu, ouviu… e disse nada. Como interpretar o silêncio? Aversão? Soberba? Falta de paciência? Embaraço? Não sabemos. Se tivesse respondido, explicando, o assunto poderia ter-se extinguido. Assim, a inquietação cresceu.
Foi referido, sempre sem dados oficiais, que esta “identidade visual” estaria em aplicação já desde Agosto. Mas é estranho que a nova marca do governo não tenha sido solenemente apresentada, como é comum acontecer. Além disso, quando fazemos alguma coisa mesmo boa, positiva e nada problemática, sem qualquer intenção escondida, o impulso é divulgá-la intensamente. Só escondemos, quando existe algo para esconder. Ficou, assim, outra questão: por que motivo escondeu o lançamento de algo cujo próprio propósito é dar nas vistas?
Pode o governo mudar a sua identidade visual e dos serviços que de si dependem? Sim, pode. E pode, para esse efeito, manobrar símbolos nacionais, alterando-os ou amputando-os de elementos definidores? Não, não pode. O problema é justamente este: a nova “identidade visual” consiste numa variação da bandeira nacional, de que, primeiro, se elimina a esfera armilar e as armas de Portugal, que são o coração da bandeira; e, segundo, assume-se a esfera armilar como definidora de mais uma cor da bandeira, o amarelo – como sabemos, as cores nacionais são apenas o verde e o encarnado.
A preocupação cresce, porque do respectivo Manual constam referências que sugerem ter havido uma intencionalidade, uma ideologia. Escreve-se que a nova imagem se afirma “inclusiva, plural e laica” e reflecte “uma consciência ecológica reforçada”. O que é isto? Que quer o governo dizer com isto? O que seria o contrário? E porquê? Ficam muitas dúvidas sobre o concreto olhar que recaiu sobre a bandeira nacional de que partiu para a nova marca.
E a interrogação é maior quando vemos que, dizendo ser a imagem do governo, ela mesma se escreve como referindo-se República Portuguesa, em globo. Como é isto? Abrange a Presidência da República, a Assembleia da República e os Tribunais? Ou cada órgão de soberania tem a sua “república” privativa?
Por tudo isto, pedimos todo o respectivo processo administrativo. Queremos ver e ler. Não deixaremos o assunto. Queremos esclarecer tudo; e tudo deixaremos a claro. Não é matéria secundária. É assunto principal.
José Ribeiro e Castro
Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal
BOLETIM DA SHIP, 27.Dezembro.2023
Editorial
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