Rubiales, Hermoso e la basura global


Quando, em 20 de Agosto, a selecção feminina espanhola se sagrou, em Sydney, campeã mundial de futebol, era impossível imaginar que os festejos desencadeassem a cascata de embaraços, vergonhas e abusos que se precipitou em ricochetes consecutivos. Nem num bilhar às três tabelas a sequência seria tão perfeita e ritmada.

Tudo começou com a escandalização, técnica conhecida. Oh! Viste? Que coisa! É inacreditável! Ouvimos, primeiro, a indignação. Só depois, vimos as coisas que nos indignassem.

A campanha rolou, bem incendiada. Passados três meses, continua a ser tema. O beijo de Rubiales subiu até ao palco do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, depois de gerar uma declaração da Comissão Europeia sobre “Violência e discriminação no mundo do desporto depois do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino da FIFA”. Ena! Foi certamente este agendamento que levou Luís Rubiales a demitir-se. 

Quase ninguém conhecia o Presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF). Mas, ao fim de 24 horas, todo o mundo, perplexo, ficou a saber que a Federação espanhola era presidida por alguém impreparado para exercer o cargo, capaz de se comportar como um javardo, sem a mais pequena noção de como deve agir em público um líder federativo, quando o desporto do seu país alcança o título mundial.

 

 

O beijo na jogadora Jenni Hermoso – que também galgou para a fama – foi o objecto de escândalo que centrou as atenções. Deu várias voltas ao mundo no opiniómetro mundial. E é, hoje, evidente que foi instrumentalizado ao serviço de uma agenda político-social. A relevância do beijo, na circunstância, não é ser “consentido” ou “não-consentido”. É absolutamente inapropriado que, em expressão do triunfo, um Presidente de uma Federação beije na boca uma atleta da sua federação e selecção nacional. Como é inapropriado que se passeie pelo relvado carregando ao ombro, como um cabrito, outra atleta da mesma selecção. Como é inapropriado que, na tribuna, ao lado de várias entidades, agarre nos genitais à macho campeão, como gesto de triunfo. Como é inapropriado pretextar justificar-se para, depois, só mostrar soberba. Como é inapropriado convocar uma reunião extraordinária da Federação e filtrar que iria apresentar desculpas (fazendo constar que se demitiria) para, afinal, escalar ainda mais a arrogância em todas as direcções e, ali, em público, como magnata exibicionista, convidar o seleccionador Jorge Vilda para mais quatro anos de contrato por meio milhão de euros anuais. Em resumo, la basura – isto é, lixo. Mostrou sempre não ter noção do que é o Presidente de um organismo com a responsabilidade da RFEF.

Porém, a basura vai muito além de apenas Rubiales; e revela a cultura actual e o tempo que vivemos. Há vídeos que mostram, claramente, que, sendo o beijo consentido ou não, a “vítima” não recusa, não sacode, não protesta, como seria próprio num abuso sexual. E das pessoas ao lado, de um lado e de outro da fila de notáveis da política e do desporto, ninguém se espanta, nem se agita. Tudo flui alegremente no cortejo dos festejos e cumprimentos, sem qualquer sinal de perturbação. E correram mundo inteiro as imagens das jogadoras da selecção, no autocarro, em animada paródia sobre o beijo, com Jenni Hermoso no centro do divertimento. Se aquilo é a ressaca de um abuso sexual…

 

 

Rubiales tinha de ser afastado. E tudo estaria bem, se ficasse por comportamento inapropriado. Porém, a farsa sexual foi gigantesca. A cavalo da agenda furibunda do feminismo radical, uma campanha de exagero artificial foi capaz de comandar o Conselho Superior de Desportos, encharcar os media, intoxicar ministros como palhaços (disponíveis para ser intoxicados), pôr deputados a dizer baboseiras, contaminar a própria Fiscalía, alagar instituições europeias, submeter a generalidade dos organismos desportivos espanhóis, europeus e mundiais e fazer de fantoches as jogadoras da selecção, que, para qualquer espírito isento, ficam muito mal na fotografia. Campeãs não se comportam assim. Tenham dó.

O que o caso mostra é que la basura já vai demasiado vasta. Não é só Rubiales ou Jenni Hermoso, nem só as instituições do desporto. É a cultura geral, a comunicação social, a política, os corredores da justiça, os interesses económicos. Nada escapa ao império da manipulação.


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