História breve de um partido fundador

 

É difícil resumir em menos de uma página o arranque de um partido fundador da democracia. Um partido que nasceu centrista, para um ambiente tranquilo e civilizado, e rapidamente foi arrastado para o galope desenfreado da revolução. No fim, emergiu entre os vencedores.

O CDS foi atropelado pela circunstância – teve de forjar e afirmar a identidade em quadro bem diferente do que imaginara. Fundado a 19 de Julho de 1974, com a revolução já a entornar, viu logo os primeiros comícios no Algarve boicotados pela extrema-esquerda. Em 28 de Setembro, a revolução descamba. A 4 de Novembro, no rescaldo do boicote esquerdista a um comício da Juventude Centrista, a sede nacional do CDS é assaltada e vandalizada. A 13 de Janeiro de 1975, o CDS foi o primeiro partido dos novos a legalizar-se no Supremo Tribunal de Justiça. A 25 de Janeiro, no Porto, o 1.º Congresso do CDS é cercado e boicotado, com cenas que correram mundo. A 11 de Março, novo golpe, nova guinada da revolução, novo assalto à sede nacional do CDS. Em Abril, dirigentes do CDS e da JC são detidos, sem acusação, alguns por longos meses: estão nos novos presos políticos.

A 25 de Abril de 1975, nas eleições constituintes, o CDS alcança 7,6%. Em oito meses, o CDS passara de “rigorosamente ao centro” para o partido mais à direita. Passou a morar no centro-direita; e usou o centro não como morada exclusiva, mas ferramenta de relação política. Nesta viagem, havia sido admitido, em tempo record e enorme apreço dos pares europeus, pela UEDC – União Europeia da Democracia-Cristã, facto que provou enorme importância na afirmação, consolidação e crescimento do CDS. Fiel a esta matriz, que vinha também da Declaração de Princípios, atravessou o vendaval do PREC, com coragem e com diferença, sem nunca se deixar tragar por ele: declarou sempre estar na oposição e representar a alternativa – é impossível esquecer o “Responder ao País” de Freitas do Amaral, na RTP em Junho. No 25 de Novembro, a loucura do PREC esquerdista acabou. Abriram-se as portas à normalidade democrática. A 11 de Dezembro, é noticiada a libertação dos últimos presos políticos do CDS: Carlos Magalhães, Pedro Magalhães e Manuel Portocarrero, com 26, 19 e 17 anos, presos há sete meses sem culpa formada. Do Manuel, costumo dizer sempre que “não tinha ainda idade para votar, mas já tinha idade para ser preso.”

A 2 de Abril de 1976, o CDS votou contra a Constituição – para que contribuíra em muitas áreas –, sinalizando bem as matérias que criticava. Assim, fundou o pluralismo constitucional. Apontou a rota das duas primeiras revisões da Constituição (1982 e 1989). Em 25 de Abril de 1976, estreia das eleições legislativas, o povo confirmou que o CDS tinha razão: subimos de 434.879 para 876.007 votos, de 7,6% para 16,0%, de 16 para 42 deputados. Brilhante fundação!


José Ribeiro e Castro

Livro "50 anos do CDS",
19.Julho.2024



 

 

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